domingo, 28 de abril de 2013

os homens temem

A morte. Como causa terror e pânico aos homens.

Passava a chave na porta quando ouvi os gritos da vizinha pedindo socorro. No chão do apartamento dela, o amigo senhor estava caído no chão, inconsciente. Desesperada, ela o chamava de volta, como se seus gritos tivessem o poder de fazê-lo desistir de ir.

Liguei pro 193. Atenderam logo. Descrevi a situação enquanto a atendente pedia o endereço e dirigia o chamado para uma ambulância. Em meio aos gritos desesperados daquela moça que não conseguia fazer seu amigo respirar melhor, tentei ficar calma, assumi o seu lugar, peguei o telefone e ouvi sobre o procedimento de massagem cardíaca explicado pela socorrista. Um texto burocrático e irritante que parecia não chegar nunca aos finalmentes.

É difícil se concentrar diante da dor de alguém e do fato de estar vendo uma pessoa que está desencarnando. Obedeci as instruções e massageei o lugar apontado. Cansa. Mas ele não dava sinal de que aquilo fazia efeito. Embora a socorrista insistisse ao telefone que era importante fazer os movimentos até a ambulância chegar, duvidei o quanto aquilo ajudaria realmente aquele homem inconsciente, cuja respiração eu já nem conseguia sentir.

Enquanto torcia pra estar fazendo os movimentos corretamente, pensei o quanto é imprescindível saber essas coisas e não damos nem bola assumindo a sentença de que jamais precisaremos disso. Talvez nós poderíamos tê-lo ajudado se soubéssemos fazer os procedimentos de primeiros socorros. Aprendam. No meio do caminho pode ter alguém que precise da sua ajuda pra ter sua vida salva. Tudo é possível nessa vida.

Cerca de 50 minutos depois do chamado, a ambulância chegou (como demora! Que espera torturante). Os socorristas fizeram seus procedimentos, mais massagens, mais tudo. Ele foi levado ao hospital, mas acho que já era tarde. Ainda digiro tudo o que aconteceu e penso sobre o quanto somos despreparados para ajudar pessoas e me refiro a isso de uma forma bem geral. Nosso egoísmo muitas vezes não atenta a dor do outro, dor da alma, me refiro. E estamos tão habituados a só pedir ajuda, que não sabemos nem dar apoio pra quem sente um desespero.

Precisamos saber mais sobre como se relacionar com o outro. Precisamos saber como lidar com a morte. Precisamos saber sobre primeiros socorros.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

O agnóstico

"O inferno e só uma ameaça. Quem comprova que existe um lugar onde somos assados igual cordeiro pelo simples motivo de querermos unicamente o nosso próprio bem? A bíblia? Acho engraçado aqueles que assumem como única verdade um livro que julgam ser sagrado só porque foram educados a enxergá-lo assim. E comungam, se confessam, vão ao culto, falam textos decorados sem pensar no que eles realmente querem dizer.

Acredito que os ignorantes sofrem menos. Ponham tudo na mão de deus e esperem o milagre cair do céu sem mover uma palha. Ele tem coisas mais urgentes do que resolver teus problemas pessoais. Ah, a confortável inércia de apenas torcer pelos acontecimentos sem fazer por onde.

Deita no colo de deus e vai... Vê o tempo passar e posteriormente lamente com o peito cheio de insatisfações. Ou assassine teu próximo porque ele discorda de tuas ideias, porque ele discorda das tuas crenças. Eu encontrei minha fé e ela está muito distante dessas tuas páginas."

O não

O quarto estava cheio de pisca-pisca. Luzes coloridas de natal que depois foram parar na sala de estar da Joana. Seu telefone tocou: "Passa aqui em casa depois do trabalho. Quero conversar contigo". A contra gosto ela foi até aquele endereço que lembrava tanta coisa. Finais de semana alegres, com música, gordice, filmes, seriados e sacanagem.

Chegou na casa e ele a mostrou seu quarto vazio, com pouca mobília e ainda assim muito bagunçado. "Meu coração está desse jeito", ele disse. Comparou o pequeno cômodo ao peito que batia angustiado e com um espaço livre daquele jeito que fica depois que se perde um amor. "Minha vida está desse jeito desde que te foste", se dirigiu ao quarto do meio daquele segundo andar da casa enorme, "mas quero que minha vida seja assim...Fecha os olhos".

O quarto estava todo decorado com luzes natalinas. Pisca - piscas que vinham do teto, passavam por todas as paredes, pela cama de casal, chão. Um colorido que travou a fala da Joana. Tão lindo...Quantas luzes! Sobre a cama, muitos chocolates - todos os seus favoritos -, chumaços de algodões coloridos, fraldas de bebê, brinquedos, fotografias, bichos de pelúcia (presentes recíprocos para os quais ambos dedicaram preciosos minutos para escolher os nomes).

Enfim ele gritou pra Joana o que ela sempre quis escutar e nunca escutou naqueles anos de relacionamento a dois. A vontade dele era finalmente construir uma vida juntos, um quase pedido de casamento. Mas a aliança que não mais estava nos dedos deles continuou sem fazer sentido. Joana até lamentou muito não querer mais aquilo. Sentiu raiva. "Não fosse seu medo, tínhamos vivido isso antes, quando eu compartilhava dessa mesma vontade, mas cansei e agora já passou o momento. Não há amor que resista a tanta negligência". No som do quarto tocava uma lista de músicas que marcaram a história dos dois. Ela disse "não". Deixou pra trás o quarto carinhosamente enfeitado. Foi pra casa com o aperto no peito e o rosto vermelho cheio de choro.

o preâmbulo da vida



Todas as vezes que converso com um idoso, constato a mesma sentença. Sentença essa que deveria estar no preâmbulo da magna carta da vida, se ela existisse. Toda vez que converso com senhores e senhoras, constato: a vida é o que você faz dela. 

Logo que cheguei em SP, conheci três ateus que tentaram de todo o jeito me convencer de que ferrar com a própria vida é o melhor que algumas pessoas podem fazer. 

Seja por consequência da minha criação positivista que me fez acreditar na existência do mérito próprio - na crença de que tudo o que conseguimos é resultado principalmente de nosso próprio esforço -, acredito que sempre é possível melhorar. Na época, o assunto que levou à discussão foi a minha surpresa diante de tantos moradores de rua em São Paulo. Segundo entendidos, levados às ruas principalmente por causa do alcoolismo. Entregar-se à bebida como fuga do que quer que seja foi o melhor que eles puderam dar de si, segundo os ateus. 

Friso o aspecto religioso porque eles deixaram clara a crença de que tudo o que temos a viver e todas as possibilidades de vivências estão na vida material (para eles, apenas vida). Nesse sentido, pensei: a crença sobre a existência de uma única oportunidade de viver só reforça o meu entendimento de que sempre podemos ser um pouquinho melhores. O esforço é sempre uma possibilidade.

Cotidianamente presencio pessoas se queixando sobre a vida que levam (no meu entendimento, a vida que escolheram). Claro que uns têm mais possibilidades de escolhas do que outros, mas ainda assim acredito que sempre há a possibilidade de escolher. Hoje é muito conveniente atribuir o atestado de coitado àquele que não pôde ter um emprego melhor, chefe melhor, filhos melhores, salário melhor, àquele que virou meliante por ser vítima da exclusão social. 

Sábia é a sentença que diz sermos responsáveis por aquilo que cativamos. Responsabilidade implica escolher assumindo as consequências que uma escolha pode trazer. Quando não se assume possibilidades de consequências, maior é a probabilidade de frustração, maior é a probabilidade da conta da inconsequência ser alta. Muitas vezes impagável.

Mesmo que a escolha seja entre o ruim e o pior, as opções existem. Sempre lembro dos soldados americanos da Easy Company que enfrentaram frio e fome para sobreviver na Segunda Guerra Mundial. Eles caíram de paraquedas (literalmente) em um ambiente hostil e com muitas balas perdidas. Matar ou morrer eram as opções que tiveram. Muitas vezes é assim mesmo. Mas, para quem está na linha de frente, se render não é o mais indicado. 

Acredito na possibilidade de tentar e tentar e tentar. E isso não quer dizer que vamos conseguir. Se não der, não deu. E quem se render à passividade, à preguiça, à morosidade, à má vontade, que aprenda a conviver com suas insatisfações. Afinal, este tem todo o direito de escolher viver passivamente, vendo a vida passar.

Homenagens ou Menàge


Bronha, punheta, bater uma, masturbação. Por que os encontros do homem com o falo são infinitamente superiores que os da mulher com sua jogadora, por vezes esquecida? Qual o homem que nunca homenageou uma mulher gostosa em um momento de reflexão?

O poder da bronha é infinito. E não adianta você pensar que, por ser uma mulher gostosa, linda e inteligente que seus peitões e sua bunda bem feita não eximirão seu namorado, marido, amante ou peguete de bater uma punheta pra outra mulher gostosa. Há quem bata mesmo depois do sexo. Sim, pesquisei.

Homem é punheteiro, porque insatisfeito, ou é insaciável porque se acostumou a fantasiar e bater punheta por isso dificilmente se contenta com o real? A maioria das mulheres não se contenta só com a masturbação. Algumas justificam porque chega a ser muito impessoal, sem sentimento, outras por preferirem o negócio ao vivo e à cores, outras porque simplesmente não sentem prazer nem com o chuveirinho. Pode ser que essa relação entre o homem e o prazer individual tenha relação com aquela história de que homem faz sexo e mulher faz amor e o resto vocês já sabem.

Via de regra, homem é mais prático, objetivo. Mulher demora a tomar decisão, a escolher, porque pensa em cada detalhe de qualquer coisa, pensa mais de uma vez, com todo cuidado, e ainda assim não escapa de fazer merda. Mulher também tem umas frescuras, por nós entendidas muitas vezes como carência afetiva, ou conflitos pessoais que sempre nos tornam seres humanos melhores ou, no mínimo, mais bem resolvidas. (Será?)

Somos muito diferentes. Enquanto homem pensa em comer uma mulher "qualidade", a gente quer um homem fofo, carinhoso e educado (no meu caso, inteligente e bem humorado entra na lista). Apreciamos um jantar mais intimista, flores, fofurezas (declarações mesmo que não verbais), beijo e sexo bem feito. Homens são mais simples. Uma mulher gostosa que fode bem já os deixa quase totalmente satisfeitos. Uma satisfação que dura pouco tempo, mas ainda assim uma satisfação.

Ó mundo cruel! Como ficar sossegada se o homem lindo do coração sempre agir como esse tipo de homem? Sim, porque boa parte deles estará insatisfeito pra sempre. Alguns conseguem aquietar o fogo debaixo do zíper e manterem-se "fiéis". Supõe-se que eles nunca estarão contentes. Mesmo que seja só uma imaginaçãozinha pra fugir da rotina, eles homenagearão aquelas que têm um cuzão, um peitão, uma jogadora que eles imaginam ser selada! Uma mulher gostosa dificilmente passará despercebida. Se passar despercebida, ou ele desenvolveu uma grave miopia, ou mudou a opção sexual. Aí, nêga, já era pra ti.


Terapia para eles? Não sei se iriam se permitir. Dá muito trabalho. Muitas vezes eles se rendem ao comportamento de macho insandecido que procura uma fêmea só pra ejacular. Acontece. Assim como é natural da mulher ter maior atração por quem lhe dá carinho, o que pressupõe que este macho ajudaria a cuidar da cria com bastante esmero. É o que dizem.


Ainda custará muito até que o homem entenda a mulher e a mulher, o homem. Nosso péssimo hábito de olhar o outro a partir de uma visão etnocêntrica, vendo o outro com olhar que temos sobre nós, tornará lenta esta compreensão recíproca. A mulher tenderá a olhar para o homem com o olhar feminino. E o homem tenderá a olhar para a mulher com o olhar masculino. Pra entender o homem, só pensando com a cabeça de homem. Pra entender a mulher, só pensando com a cabeça de mulher.


Homem sempre fará sexo e a mulher sempre fará amor? Claro que não. Toda regra admite exceções (os tempos mudaram). O certo é que a mulher tenderá a querer toda atenção do mundo e o homem as bundas e os peitos mais gostosos.