segunda-feira, 25 de abril de 2016

pra eu lembrar daqui a alguns anos

A internet é engraçada. Tinha esquecido que esse blog existia. Todavia, que bom que permaneceu inteiro. Fui lendo as publicações, uma a uma, e lembrei porque decidi escrever sobre os humanos. Os textos resgataram da minha memória arquivada experiências vividas num passado nem tão distante, que bloqueei totalmente. Fosse um diário e não um blog, só teria acesso a esses escritos em uma eventual faxina, quando encontraria o caderninho empoeirado e dedicaria algumas horas à leitura de textos escritos com uma caligrafia juvenil, lidos entre um e outro espirro, não é mesmo, rinite?

Eu ainda concordo com a maioria dos meus pensamentos de dois, três anos atrás. Me deparei com algumas referências teóricas - preciso estudar mais. Eu gosto de relacionar leituras com fatos e experiências. Essa organização das coisas em teoria e prática é solução meramente metodológica. Pois bem.

Acredito que uns dois anos se passaram desde que compartilhei aqui meus últimos pensamentos. Decidi voltar a fazê-lo. Um dia eu não estarei mais aqui e quero deixar pra quem ficar algumas percepções e aprendizados, como herança. Como eu costumo dizer, a gente chega nesse mundo sem nenhum manual de integração pra nos colocar a par da realidade que nos abrigará o resto da vida. O processo de integração é fundamental em qualquer cultura. Antigamente, funcionava a lógica do "um dia de cada vez", mas, hoje, as coisas correm mais rápido e, quanto antes a gente entender a "máquina", melhor aproveitamos as experiências para acertar mais e aprender mais com os erros. Escolher é um exercício difícil, de tentativas, de repetições, de muitos acertos, muitos erros, até que a gente consiga enxergar o todo e saber qual o melhor caminho a traçar. Ninguém nos explica isso. Pelo menos ninguém me explicou.

Como eu entendo que a gente tá vivo pra aprender, meus aprendizados mais recentes me mostraram uma coisa: nunca subestime o pior. Sempre pode piorar. E, ainda: como as pessoas se escondem atrás de personagens! Três anos antes disso, eu descobri que não é porque somos legais com o outro que ele vais ser também legal com a gente. As pessoas são levadas a ter ações negativas por motivos que a gente nem consegue especular. Só nos deparamos, depois, com a surpresa e um ponto de interrogação enorme: por quê? Vai saber.

A história é o seguinte: meu pai me ensinou que sempre temos que ser éticos, honestos, sinceros e transparentes. Assumir erros mesmo quando pisamos na bola feio. Mas é importante reconhecer as falhas, aprender com as falhas e pedir desculpa. Honestamente. Mesmo que nossas atitudes sejam pautadas por esses valores, nada impede que algumas pessoas sejam desonestas, corruptas, sabotadoras e falsas com você. O curioso é que eu tenho percebido que essas atitudes partem de pessoas que a gente nem imagina. Pessoas que têm um discurso bonito, floreado, que pregam valores cristãos, a paz mundial, a gratidão e a sustentabilidade. Dá aquela raivinha estar diante de tanta hipocrisia. Mas, da feita que eu capto o tom falsiane do relacionamento, fico quieta só observando a encenação.

A ambição, a inveja, a ganância levam as pessoas a fazerem coisas terríveis. Achei que isso fosse só narrativa de novela, série, filme, de contextos catárticos que usam esses recursos pra nos proporcionar experiências que, lá no fundo, a gente não vai ter na vida real.

Mas acontece sim. Eu fui enganada por pessoas que sabem escolher as palavras, os discursos e algumas atitudes certeiras pra mostrarem pra gente que são pessoas gentis e hospitaleiras, de coração. Infelizmente, usam a aparente generosidade como isca, um argumento fortíssimo para baixarmos a guarda e termos a sensação de segurança. Relaxamos e eles mostram pra que vieram. É um jogo sujo que a gente não consegue entender de imediato. São muitas informações conflitantes. Como pode ser tão generoso, tão legal, tão simpático, tão acolhedor e, ao mesmo tempo, querer nosso pescoço? É quando os momentos críticos se fazem presentes oportunizando ao sujeito externar uma essência que não consegue ser escondida durante a perda de controle. Aí a pessoa mostra a que veio.

Ainda assim a gente fica confuso, tentando combinar as imagens do bem e do mal e chegar à alguma explicação plausível que aquiete nosso espanto e nos permitam voltar à vida, normalmente. A gente segue a vida e eles seguem tramando e a gente nem presta atenção por estar ocupado com questões realmente importantes e produtivas e, quando menos esperamos, outro golpe. Na verdade me foram necessários vários até que eu entendesse o que realmente estava acontecendo e pude, enfim, me afastar e me defender. É o melhor a ser feito. O mais curioso é dar de cara com a indignação do dominador quando ele se dá conta que não pode mais te dominar, abusar de ti, sugar a tua energia. O abusador aponta motivos que sempre nos colocam na posição de culpados por tudo de ruim que está acontecendo e, eles, claro, se mantém na posição de vítimas. É cômico.

Aí a gente começa a ler a narrativa do relacionamento com essas pessoas de trás pra frente, e faz uma leitura completamente diferente dos fatos. "Caras de pau!" As coias começam a fazer sentido. Depois que o dano está feito, a gente vai reparando os estragos que nos tomam um bom tempo. Mas cada estrago é um aprendizado pra gente não se deixar levar novamente por pessoas como essas. O mundo tá cheio dessas. Mas eu achava que elas iriam estar distantes do meu caminho. Nunca pensei que fosse ter contato tão perto com gente assim. Aconteceu. Pensemos sempre pelo lado positivo. Aprendi a lição. E se a minha leitura sobre patifes já era intermediária, agora estou em um nível mais avançado. Enxergo vários por aí. Tomem cuidado.