sexta-feira, 26 de abril de 2013

O não

O quarto estava cheio de pisca-pisca. Luzes coloridas de natal que depois foram parar na sala de estar da Joana. Seu telefone tocou: "Passa aqui em casa depois do trabalho. Quero conversar contigo". A contra gosto ela foi até aquele endereço que lembrava tanta coisa. Finais de semana alegres, com música, gordice, filmes, seriados e sacanagem.

Chegou na casa e ele a mostrou seu quarto vazio, com pouca mobília e ainda assim muito bagunçado. "Meu coração está desse jeito", ele disse. Comparou o pequeno cômodo ao peito que batia angustiado e com um espaço livre daquele jeito que fica depois que se perde um amor. "Minha vida está desse jeito desde que te foste", se dirigiu ao quarto do meio daquele segundo andar da casa enorme, "mas quero que minha vida seja assim...Fecha os olhos".

O quarto estava todo decorado com luzes natalinas. Pisca - piscas que vinham do teto, passavam por todas as paredes, pela cama de casal, chão. Um colorido que travou a fala da Joana. Tão lindo...Quantas luzes! Sobre a cama, muitos chocolates - todos os seus favoritos -, chumaços de algodões coloridos, fraldas de bebê, brinquedos, fotografias, bichos de pelúcia (presentes recíprocos para os quais ambos dedicaram preciosos minutos para escolher os nomes).

Enfim ele gritou pra Joana o que ela sempre quis escutar e nunca escutou naqueles anos de relacionamento a dois. A vontade dele era finalmente construir uma vida juntos, um quase pedido de casamento. Mas a aliança que não mais estava nos dedos deles continuou sem fazer sentido. Joana até lamentou muito não querer mais aquilo. Sentiu raiva. "Não fosse seu medo, tínhamos vivido isso antes, quando eu compartilhava dessa mesma vontade, mas cansei e agora já passou o momento. Não há amor que resista a tanta negligência". No som do quarto tocava uma lista de músicas que marcaram a história dos dois. Ela disse "não". Deixou pra trás o quarto carinhosamente enfeitado. Foi pra casa com o aperto no peito e o rosto vermelho cheio de choro.