A morte. Como causa terror e pânico aos homens.
Passava a chave na porta quando ouvi os gritos da vizinha pedindo socorro. No chão do apartamento dela, o amigo senhor estava caído no chão, inconsciente. Desesperada, ela o chamava de volta, como se seus gritos tivessem o poder de fazê-lo desistir de ir.
Liguei pro 193. Atenderam logo. Descrevi a situação enquanto a atendente pedia o endereço e dirigia o chamado para uma ambulância. Em meio aos gritos desesperados daquela moça que não conseguia fazer seu amigo respirar melhor, tentei ficar calma, assumi o seu lugar, peguei o telefone e ouvi sobre o procedimento de massagem cardíaca explicado pela socorrista. Um texto burocrático e irritante que parecia não chegar nunca aos finalmentes.
É difícil se concentrar diante da dor de alguém e do fato de estar vendo uma pessoa que está desencarnando. Obedeci as instruções e massageei o lugar apontado. Cansa. Mas ele não dava sinal de que aquilo fazia efeito. Embora a socorrista insistisse ao telefone que era importante fazer os movimentos até a ambulância chegar, duvidei o quanto aquilo ajudaria realmente aquele homem inconsciente, cuja respiração eu já nem conseguia sentir.
Enquanto torcia pra estar fazendo os movimentos corretamente, pensei o quanto é imprescindível saber essas coisas e não damos nem bola assumindo a sentença de que jamais precisaremos disso. Talvez nós poderíamos tê-lo ajudado se soubéssemos fazer os procedimentos de primeiros socorros. Aprendam. No meio do caminho pode ter alguém que precise da sua ajuda pra ter sua vida salva. Tudo é possível nessa vida.
Cerca de 50 minutos depois do chamado, a ambulância chegou (como demora! Que espera torturante). Os socorristas fizeram seus procedimentos, mais massagens, mais tudo. Ele foi levado ao hospital, mas acho que já era tarde. Ainda digiro tudo o que aconteceu e penso sobre o quanto somos despreparados para ajudar pessoas e me refiro a isso de uma forma bem geral. Nosso egoísmo muitas vezes não atenta a dor do outro, dor da alma, me refiro. E estamos tão habituados a só pedir ajuda, que não sabemos nem dar apoio pra quem sente um desespero.
Precisamos saber mais sobre como se relacionar com o outro. Precisamos saber como lidar com a morte. Precisamos saber sobre primeiros socorros.